sábado, 18 de janeiro de 2014

Sábado

O pai está fora, a trabalho. Acordou de madrugada para chegar cedo ao destino e ainda voltar a horas de jantar, esperamos. Eu acordei ao mesmo tempo que ele. Ainda noite cerrada, ainda muito frio e ainda sem adivinhar o sol bonito (ainda que de pouca dura) que nasceu depois. Tomámos o pequeno-almoço juntos, quase em silêncio, o silêncio que a hora impõe, com um abraço para o caminho e outro para o regresso.
Aproveitei o silêncio de uma hora a que sei que ninguém acorda. Liguei o computador, escolhi a pasta onde guardo todos os caracteres que daqui a pouco verei impressos, respirei fundo num misto de orgulho e ansiedade por visualizar esse dia, e comecei a escrever. Tenho tanto ainda pela frente, tanto. 
Resisti à tentação (vício) de abrir qualquer página de rede social, parei no fim de mais um capítulo escrito para ler a capa do Público. Fiz um chá, fui buscar mais uma manta, tentei fazer o mínimo de barulho possível, espreitei os meus miúdos todos, a dormir, tão serenos os três manos, encostei as portas todas, e continuei até à hora (perfeita) em que todos acordaram, em que o barulho e a confusão começou já com um par de horas ganhos, muitas páginas escritas, o entusiasmo conquistado para continuar a escrever logo à noite, já com a melhor companhia do (meu) mundo e com a casa, de novo, em silêncio.
Este tempo cinzento que convida a ficar em casa, a ler e a escrever, um sol tímido que soube pela vida num bocadinho de ar puro na varanda, as panquecas de iogurte que lhes quero fazer para o lanche, um filme que vamos ver todos juntos no sofá, uma receita que vou fazer para o jantar, escolhida por eles, esperar que o pai chegue a horas de jantar connosco, gostar muito desta vida simples e calma.
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imagem | vt wonen