Ter medo de errar é um erro. É
sempre um erro. E é o único erro que não tem perdão. Sou maravilhado por quem
erra. Por quem sabe que, por fazer, por tentar, pode errar. E são as melhores
pessoas, convence-te disso, quem mais erra. São as pessoas que vão aos limites
(e os ultrapassam sempre que lá chegam), que se testam como se não houvesse
amanhã, como se o agora fosse tudo o que há para haver. E é: o agora é tudo o
que há para haver. O agora é o que tens: é sempre o que tens. Nunca és mais do
que aquilo que és agora. Por mais que penses no antes, por mais que projectes o
depois: o que és é o que és agora. Sempre agora. Nada mais do que agora. E
agora? Agora pega em ti e ousa errar.
Não erres propositadamente. Errar de propósito não é errar – é mirrar. É
pré-errar. É sabotar o próprio erro – e querer, com isso, diminuir-lhe o
impacto. Errar de propósito é acertar em cheio naquilo que não deve ser errar:
uma dor pequenita. Nada disso. Errar tem de doer em grande. Errar deve doer em
grande. Errar tem de fazer chorar, cantar, gritar, gemer ou correr. Errar tem
de provocar. Tem de provocar reacções, compulsões, compressões ou simplesmente
mutações. Porque só o erro gera a mudança, só o erro obriga à mudança. Só o
erro te leva na direcção mais acertada. Qualquer livro de História te comprova
que estou certo.
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um grande texto do pedro chagas freitas