quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ando a viver um momento zen. De paz interior, daquela que chega depois de uma enorme tempestade emocional. Daquela paz que só é possível depois de ter gritado ao mundo tudo o que vai cá dentro e de ter arrumado assuntos soltos nas devidas gavetas. Ainda não estão todas bem fechadas, ainda existem umas pontas de uns laçarotes, que usei para enfeitar as caixinhas, que estão soltas, porque são de um tecido mais díficil de moldar. Mas já consigo ver com clareza o que não fazia sentido aqui há umas duas semanas. E já consigo perceber que o caminho se faz caminhando. Sem pressa, mas com algumas paragens. Parar para reflectir, sim. Claro que sim. Mas neste jogo que é a vida, não vale ficar sentado à espera das respostas. Não adianta olhar trinta mil vezes para a esquerda e outras trinta mil para a direita à espera que um ser do outro mundo desça e nos dê as respostas todas. Isso seria facilitar o processo, seria como comprar aquele livro que andamos há imenso tempo para ler e começar pelo fim... qual é a piada?
Neste meu caminho, onde vou recolhendo algumas peças de mim que perdi, por aí, onde vou guardando em mim as muitas mulheres que já fui e que me ajudaram a ser quem sou, sei que vale a pena abdicar, por um momento que seja, de tudo o que temos como certo sobre nós próprios. A estrada torna-se menos monótona, com muito menos paisagens que apenas mostram verde e verde e verde e que acabam por nos causar alguma sonolência. Existem curvas apertadas que fazemos com cuidado, mas que estão lá e tornam o percurso mais apelativo. Existem sinais de trânsito a respeitar e regras de prioriodade que serão sempre o nosso norte e o nosso sul. O destino não importa, o que conta no mundo dos afectos é o caminho.
Com algumas precauções, claro. Porque os outros "automobilistas" podem não pensar exactamente como nós. Podem não respeitar as mesmas regras de trânsito que nós e entrar a abrir "na nossa mão". Mas também é por causa destes infractores emocionais, que trazemos sempre por perto aquela caixa dos primeiros socorros que tem um coração desenhado e muitos analgésicos lá dentro. Que guarda alguns hansaplast e uma dose certa de água oxigenada e álcool etílico que eliminam, logo, qualquer vestígio de uma mal intencionada tentativa de infecção emocional.