terça-feira, 7 de abril de 2009

Amor sem sexo e sexo sem amor?! Oi?

O meu amigo M diz que é mais que possível, desejável e satisfatório sexo sem amor. Sem a componente emocional tudo se torna mais simples. Ambas as partes sabem ao que vão, sabem o que não acontece depois, lamechices de sms, corações em papelinhos amarelos e clichés a cheirar a mofo são proibidos, e sabem que a recompensa são noites ou fins de semana escaldantes onde só uma palavra dita ordens: prazer. O M é um dos amigos mais divertidos, bem dispostos e com um sentido de humor inteligente e acutilante que eu tenho. Adoro as nossas conversas e sou uma curiosa em relação ao envolvimento (ou não) que ele estabelece com o sexo feminino. Tem sempre histórias hilariantes, pormenores que me fazem rir até me doer o estômago e os maxilares, tudo resultado final de uma história nada divertida e sem nada de fascinante, mas cada vez mais corriqueira e que resume a postura dele em relação à vida, ao seu lado B: o emocional. O M não é casado. O M não tem namorada. O M não tem amantes. O M tem amigas. Tem muuuuitas amigas. Todas são amigas, mas amigas com a pequeno, como faz questão de sublinhar. Contam-se pelos dedos de uma mão as amigas que tem com A grande. Nunca fui amiga do M com a pequeno e sou uma das amigas dele com A grande. E, simplesmente, adoro (o). A história: o M apaixonou-se há muitos anos por uma miúda linda de morrer, colega de faculdade. Ficou fascinado por ela desde o primeiro dia que a viu. Conquistou-a e fez dela a mulher da vida dele. Eram mega felizes, tinham uma relação fantástica e iam casar… pois, iam. Namoraram cinco anos, um dos quais viveram juntos, na casa que ambos compraram e que quiseram estrear antes do casamento. Quis o destino ou sei lá que infortúnio (ou não, depende do ponto de vista) que a eleita do meu amigo M tenha sido convidada para trabalhar numa das melhores empresas em Portugal e se tenha deixado envolver de tal maneira com o trabalho, a ambição de crescer, os mil projectos em que a envolveram, as viagens e o reconhecimento monetário que ia recebendo, que acabou por se envolver também (pasmem-se) com o chefe. Oh yeah. Ó…, so what? Até aqui nada de novo. Pois, também digo, isto é o que mais se vê hoje em dia. Mas para o meu sweet amigo M isto foi o fim. Claro. O fim do lado B, o fim da envolvência emocional, o fim do encanto que a paixão e o amor aportam às nossas vidas. O M já não acredita em nada disto, aliás deixou de acreditar no dia em que a sua querida namorada/noiva o traiu e confessou a traição. E mesmo depois de muitas lágrimas de arrependimento, de muitos “por favor perdoa-me, tu és o homem da minha vida, cometi um erro…” e blá blá blá fala-para-aí-que-eu-estou-a-ouvir, o M seguiu em frente, mas deixou o coração lá atrás.
E por causa deste episódio, vestiu uma dura armadura que não o permite envolver-se emocionalmente com ninguém. Eu até o entendo, mas sou contra. Sou contra todos os medos que as pessoas têm de se envolver porque ah e tal posso vir a sofrer. Ai podes vir a sofrer, so what? Também andas de carro e podes vir a ter um acidente! Também comes chocolates e bolos e podes ficar diabético! Também fazes ski ou surf ou judo ou body jump ou whatever e podes partir a cabeça! Vais deixar de viver com medo do que vem a seguir? Please! Digo isto vezes sem conta ao meu amigo, na esperança (sempre na esperança) que um dia ele perceba que apenas existe, não vive em pleno. Que essa história do sexo sem amor é toda muito linda e excitante e atraente por um período, em que o que mais queremos é ser livres, livres de amarras emocionais e dependências que não ajudam em nada quando ainda temos feridas abertas. E o M, com aquele sorriso fabuloso, apenas me diz: “minha querida, eu não tenho paciência para os temas de conversa das mulheres de trinta, da geração Sex and the City, que inclui sempre casos mal resolvidos, medo de ficarem sozinhas, de envelhecer, conversas sobre sandálias Manolo Blanik (não vejo qual o problema, mas enfim…) e casacos Prada, cremes fabulosos e depilações a laser…”.
Acho que o M com esta visão redutora das mulheres, só mostra que perdeu a capacidade de amar, de ver o que está para além e de perceber que ainda que seja verdadeira e incrivelmente aplicável esta versão mood Barbie, há excepções, como em tudo na vida. Porque também existem homens que só sabem falar de mulheres (boas com' ó milho), futebol, motas e carros, playstation e barcos e há os outros que sabem falar disto tudo, de modo inteligente, e muito mais, e que são a excepção a uma regra que é cada vez mais uma minoria.
E eu sempre fui uma defensora acérrima das minorias.