«Vivemos cheios de
perguntas. De perguntas para as quais não conseguimos respostas, a maior parte
do tempo. Por vezes, são tantas as perguntas sem resposta, que se transformam
numa espécie de ruído surdo, difuso. Como em (quase) tudo, importa perceber. E,
uma coisa muito importante: perceber que nem sempre dá para perceber. E que,
face a algumas perguntas, o melhor que se pode fazer é mesmo isso: não querer
perceber. Uma coisa que só vem com o tempo e com umas quantas experiências,
creio. Porque a nossa tendência natural é para esclarecer, dizer, ouvir,
circunstanciar. O mais que se puder, por se pensar que é esse o caminho da paz,
por mais difícil que às vezes possa ser. E não. Com o tempo, vamos aprendendo
que nem sempre esse é o caminho da paz. E, que, por vezes, o melhor é não
querer entender coisa nenhuma que não tenha uma explicação que não seja só
água, de límpida. Porque esse é um caminho que não vai levar a sítio nenhum. Um
caminho que nos desvia de outros caminhos. Mas, para chegar a este ponto, é mesmo
preciso passar por umas quantas coisas. Não há uma maneira fácil. Não vem nos
livros, não há filosofia que ensine. Por mais que as filosofias e que os livros
sejam salvíficos, tem de ser da maneira difícil. Tem de ser pela vida. É pela
vida que se chega a esse ponto de identificarmos o que é que não é para
perceber.»
ᨆ