« [Eu e a vida]
Sempre nos demos bem. Nunca disputámos brinquedos, nunca lhe
gritei porque tinha fome, nunca lhe chorei porque arranhei o joelho, e jamais
lhe pedi que se marcasse com um ponto final, porque sempre fui mulher de
vírgulas.
E lá íamos nós, eu e a vida,
sempre seguras, sempre satisfeitas, sem nada a pôr nem a tirar. Ora a vida que
me foi dada, deu-me a mim, também, muito do que tenho. Deu-me uma casa onde o
chão se desenha em calçada, e os prédios se pintam em tons alegres que se
preenchem do fado cantado com corpo e alma. Deu-me uma família que se alarga
para além do sangue, dias azuis e mergulhos no mar, pastéis de nata, noites
estreladas, bolas-de-berlim nas mãos, areia quente nos pés, pores do sol para
acolher memórias, e manhãs de inverno para abraçar o dia. Mas acima de tudo,
Quem me deu a vida, deu-me, também, a escolha de a fazer viver.»
| marta d’orey |
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