Palavras que podiam ser minhas, soubesse eu
escrever assim:
«Sammy, observa bem: é assim o amor. Chegar a
casa e ter o almoço à espera, doces e tartes e tortas, a manhã começada cedo e
acabada a horas e a expectativa do contentamento a cada dentada, porque cuida
quem ama, ama quem cuida. Sammy, o amor é uma barriga cheia que nunca mais
acaba. É a vontade em ponto de caramelo e sem hora marcada porque todas nos
pertencem, o que se reserva e se refoga feito alimento. São as dobras no cabo
do chuveiro e as manias todas juntadas na mesma ordem, os cheiros tão
confundidos e tão nossos. Sammy, o amor é uma casa onde nos sentimos sempre
bem. Adormecer no irrenunciável dos seus olhos, terreno virgem aos perigos do
mundo, os dedos nervosos e tacteantes mesmo que a verdade fosse desde sempre
conhecida e os pés e as pernas e o corpo sempre enlaçado porque o amor é uma
respiração comungada a sincronizar-se no toque da pele. Sammy, nenhum verso é
mais belo do que o concreto do encontro com outro corpo, nenhuma palavra mais
reveladora do que o gesto. Acordar com o mesmo beijo e a mesma certeza, canções
que despertam connosco e a vida toda a ser de repente simples, nenhum problema,
nenhuma agitação, nenhuma agenda, nenhuma interrogação. O que eu sinto é
exclusivo. Sammy, o amor é todas as respostas. Ver um filme e comer pizza na
cama, rir e barafustar por tudo e por nada, inventar futuros com a mesma
diligência com que se inventa o destino das sobras mesmo que em nós só sobrem
possibilidades e (a)braços, todo o espaço preenchido pelo mesmo sentir de
sermos nós, hoje e agora. Cinco libras mas é outra a minha sorte grande, porque
eu também adoro esta vida, mi amor, mi gustas tu. Sammy, observa bem: a
felicidade é isto.» | this is not simply a methaphore
» créditos imagens | rodrigo graça