1. Um filme muito bonito.
2. Um lugar para (nós) dois.
3. Uma música em loop.
4. Um livro para o Martim.
5. Um pão nosso para provar.
Palavras que podiam ser minhas:
«(...)
Passamos a vida tão ao de leve, tão preocupados com coisas mundanas, com as
contas, com os horários, com o que os outros pensam, com o que é que se tira
para o jantar, com aquele berbicacho que temos de resolver até ao dia seguinte,
que nos esquecemos do que realmente importa. De quem realmente importa.
Só as tragédias nos espicaçam durante uns dias. Nesse
período, prometemos a nós próprios que vamos ser pessoas melhores, que vamos
preocupar-nos mais com os outros, que vamos telefonar mais vezes aos pais, aos
avós, aos amigos, que vamos cumprir aquela promessa há tanto tempo adiada.
Prometemos tudo isto, para logo a seguir sermos novamente engolidos pelo
quotidiano e atirados a um mundo que não está feito para contemplações. Um
mundo que não nos dá tempo para pensar, que não nos dá tempo para tudo o que um
dia gostaríamos de fazer ou dizer. E, quando mais de 90% da população luta para
sobreviver, é quase um insulto pedir que sejamos mais contemplativos e olhemos
para as pequenas coisas poéticas que a vida nos oferece. A poesia não paga as
contas, não cumpre os horários, não faz o jantar.
Mas
então acontece uma tragédia. Um acidente, uma doença, uma injustiça. Um segundo
que nos rouba o chão, que nos traz o desejo doloroso de ter tido mais um dia,
mais um abraço, mais uma palavra sussurrada ao ouvido. Nessa altura, o que nos
resta senão as tais coisas poéticas? Quando não há um corpo, quando não há
vida, matéria, substância, persistem as recordações e a culpa por todos os
minutos que perdemos a pensar nas contas, nos horários e nos jantares. Porque,
por muitas voltas que a vida dê, por muitas obrigações que o mundo nos imponha,
são as pessoas que nos dão sentido. Pessoas que merecem ouvir todos os dias o
quanto são importantes na nossa vida. Todos os dias. Não apenas nos dias das
grandes alegrias. Ou das grandes tragédias.»
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