Os «se» da nossa vida

«Aprendemos as regras
gramaticais nas aulas de Português, mas não apreendemos todo o alcance do que
aprendemos. Ficamos a saber, por exemplo, que o 'se' é uma conjunção
subordinada condicional e o 'ou' é uma conjunção coordenada disjuntiva, mas
isto diz muito pouco ou nada sobre o sentido de duas palavrinhas que tanto nos
atrapalham a vida. Passamos o tempo a usar o 'se' e sem nos darmos conta
atrasamos muitas vezes o passo por causa deste mesmo 'se'. Vejamos: sempre que
estamos perante algo que não está nas nossas mãos mudar e pensamos ou dizemos
qualquer coisa como "se vivesse aqui ou ali... se esta pessoa fosse assim
ou assado, se fizesse isto ou aquilo... se tivesse o que mereço, se me dessem o
que quero, se ganhasse mais, se a vida fosse diferente, se fosse mais novo, se
fosse mais alto, se o meu chefe fosse melhor, se, se, se..." estamos a
colocar-nos num plano distante, inatingível, fora da nossa capacidade de
decisão, e, por isso mesmo, a alimentar expectativas irrealistas. Sempre que
adiamos uma decisão ou deixamos de fazer alguma coisa verdadeiramente
importante por causa de um destes 'se' que nos paralisam ou deixam em loops em
circuito fechado, estamos a perder tempo e pior, a deixar que outros decidam
por nós. Acredito que a existência é one shot e nos cabe ser o actor principal
da nossa vida. Não me passa pela cabeça ser um actor secundário e, muito menos,
um figurante no filme da minha vida e, nesta lógica, tento estar atenta às
armadilhas dos 'se' e dos 'ou', para não desperdiçar demasiado tempo nem
energia com impossíveis. É que o 'ou' também pode revelar-se uma ratoeira na
medida em que nos desfoca do essencial. Habituámo-nos a pensar que as pessoas
são 'isto ou aquilo', mas na verdade todos podemos ser 'isto e aquilo'. Podemos
ser fracos e fortes, podemos pensar uma coisa e depois outra, sem que isso nos
divida ou faça de nós pessoas menores. Muito pelo contrário! Nestas matérias
acredito que mais do que a gramática, importa a matemática dos sentidos na
lógica da multiplicação dos talentos e das capacidades. Muito complicado?
Talvez não...
P.S.: A boa notícia
relativamente a estas e outras palavras que condicionam a nossa vida tem a ver
com a possibilidade de pormos os meios para atingirmos os fins. Quando podemos
mudar alguma coisa em nós ou na realidade à nossa volta, os 'se' deixam de ser
obstáculos e convertem-se em metas!»
Laurinda Alves