segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Família com bagagem

Gosto muito de (os) mimar e gosto muito de ser mimada. Gosto de fazer as coisas que eles gostam e gosto que me perguntem se podem ser eles a fazer o jantar. Gosto de fazer surpresas e de receber sorrisos. Gosto das pequenas mensagens que trocamos durante o dia, todos os dias. Gosto da sensação de proximidade, de estarmos sempre perto uns dos outros de ser sempre um até já. Tenho um medo irracional de dizer  a palavra «adeus» a quem gosto muito.
Gosto desta lamechice boa que somos, do que nos habituámos a dar. Gosto até que me achem tremendamente pirosa na forma de amar. Porque gosto muito, sem vírgulas ou reticências, deste amor-grande-cheio-de-bagagem que a vida me deu. Mesmo nos dias em que não somos sintonia, sol e calor. Mesmo nos dias em que me zango, em que nos zangamos, em que grito mais do que gostava, em que perco a paciência e a razão, em que choro, em que fico em silêncio, em que volto atrás, em que dou o braço a torcer e peço desculpa. Desculpa, desculpa, desculpa. E sofro, e cresço, e respiro, e volto a confiar, em mim, em nós e na vida. E reconheço que também sou frágil, e é aí que fico mais forte.
Família com bagagem não é um mar de rosas. Acho que nenhuma família o é. Difícil, tão difícil, e em tantos dias. Ainda assim e mesmo assim, gosto muito de nós. E vou mantendo no lugar certo esta certeza «do que deve ocupar mais espaço no coração.»