sexta-feira, 18 de julho de 2014

Inspiração para o fim-de-semana »♥«

1. Seis coisas para interiorizar. Adorei este artigo.
2. Muito para ver e para aprender aqui. Muito bom.
3. Felizes dos que amam a música. Esta. Sempre.
4. Quando falam de nós assim. Orgulho, imenso.
5. Palavras que podiam ser minhas:

| Geografia da alma

Uma vez por ano o chão era pó de terra fina e caruma de pinheiro manso encardindo os pés. E os dias eram das videiras, dos tanques com água de cor duvidosa e limo nos cantos, das ruas de paralelo, das galinhas, dos burros, das carroças com rodas de madeira, dos coelhos. As horas eram sol, sombra, lua, estrelas. A palha enchia colchões e a espuma era muita dentro das almofadas e às vezes fazia doer os sonhos. Havia crianças, muitas crianças. E rua, muita rua. E havia um sapateiro numa esquina e o ar cheirava a cola entranhada nos dedos escurecidos. E logo a febras na brasa e a sardinhas comidas com figos. Havia pelo menos um baloiço numa árvore. Pinhões e avelãs à sobremesa. E pêssegos carecas. Janelas de guilhotina, dobradiças e soalhos que rangiam e a minha bisavó sempre na soleira da porta. As sombras do candeeiro a petróleo. Uma vez por ano era assim. Sei que uma vez por ano não basta. Agora que o meu chão é também areia e feno tingido de sol, e pedras polidas e sal. Uma vez por ano não basta. Não vai bastar nunca mais. Há uma menina do campo com um coração ancorado a Sul.