Aparentemente bastava-nos subscrever o enunciado acima, e o passo seguinte seria fácil. Marcávamos um dia na agenda ou sentávamo-nos logo ali no chão e tratávamos de pôr as contas em dia. Mas raramente fazemos as coisas assim. Quase nunca, para dizer a verdade. Pela simples razão de que temos medo que se pararmos, por minutos que seja, vamos concluir que não sabemos ao que andamos e, chegados a essa conclusão, impunha-se agir em conformidade, ou seja, tomar decisões, fazer mudanças, confrontar os outros. Por isso, mascaramos a demanda de mil exigências perfeccionistas. Já não nos basta uma manhã, nem uma tarde, nem sequer um dia, já não serve o pátio fresco de uma casa, ou o banco de uma igreja bonita e, quando damos por isso, convencemo-nos de que para reavaliar o nosso equilíbrio interno precisamos de umas férias de catálogo. Por outras palavras, adiamos.
E porque adiamos o nosso corpo protesta, e temos insónias, e dói-nos o estômago, e há momentos em que a ansiedade nos aperta o peito com tanta força que estamos seguros que o coração explodiu, e falta-nos o ar. Mas continuamos porque as mulheres não param, nem cruzam os braços, e além do mais há sempre alguém que precisa mais de ajuda do que nós.
Asneira. E a factura surge mais tarde ou mais cedo e se for mais tarde terá somados impostos entretanto criados. Por isso, se não pode ingressar num convento no Nepal, não descarte clareiras com defeito, mas à mão de semear (...).»