Se é verdade que os dias têm parecido
intermináveis, intensos e de grande malabarismo para conjugar com rigor o verbo
que mais disciplina me exige, conciliar, também é verdade que começo a ver o
meio deste fio que me conduz, afinal, a um desejo que formulei há precisamente
um ano: poder passar mais tempo com o Martim. Conseguir conciliar o papel que
assume uma importância decisiva na minha felicidade, o de mãe, com todos os
outros que me definem (e equilibram) como pessoa.
E há dias, há semanas, fases como a que
estamos a viver, em que tentamos explicar isto tudo, esta dinâmica toda, esta
(aparente) confusão em que se tornou a nossa vida e, ao mesmo tempo que falamos
e nos estamos a ouvir, as coisas ganham sentido. É confuso? É. E a mim faz todo
o sentido.
Porque eu pedi, pedi com todas as forças
para encontrar um caminho que me permitisse conciliar tudo. E a vida, o
universo, a Mão que embala a fé, fizeram-me a vontade. Não sem antes me porem à
prova e porem ao meu dispor todas as ferramentas para que eu pudesse
materializar o que pedi, com o pormenor, coisa pouca, de não ter em anexo um
manual de instruções para fases confusas. Essa parte deixou para mim, para nós,
para descobrirmos, percebermos, se era mesmo isto que queríamos. Não o fizeram
de uma forma fácil nem de uma forma muito clara (nunca o é, desenganem-se), mas
foram conduzindo tudo, todos os dias, todos os projectos, todas as pessoas,
para este sentido, o sentido que, um dia, eu pedi para me ajudarem a conseguir
encontrar.
Esta pode ser a forma mais optimista e
romântica de simplificar a fase que estamos a viver. Que tem dias de grande
pressão, de alguma dispersão e de falta de tempo (falta sempre) para conseguir
dar resposta a tudo.
Mas tenho mais tempo com e para o Martim.
Conto com a presença atenta do meu melhor amigo (e maior amor desta vida) e com
o apoio dele, sempre que os meus compromissos têm mesmo de acontecer a meio da
manhã ou da tarde. Tudo o resto fica para as horas madrugadoras a que gosto de
acordar, para as noites em que a casa está em silêncio, para o
pós-laboral que no fundo convém a todos os meus formandos e para alguns
sábados, e domingos, que vou reservando para os workshops especiais. E mesmo
faltando tempo, tenho mais tempo para o que é essencial. É confuso? É. E a mim
faz tanto sentido.
No fundo, o projecto mais importante da
minha vida é o projecto dos (meus) afectos. E foi isto tudo que eu pedi, um
dia, para me acontecer.
Tenho um retorno financeiro totalmente
diferente de qualquer um que alguma vez tive, e ainda assim sou muito mais
feliz do que alguma vez fui.
* - seguir em frente.