Podemos tentar
inúmeras vezes, sozinhos em casa, tentar montar o móvel que comprámos na semana
passada e que não conseguimos perceber como as peças encaixam umas nas outras.
Podemos estar sozinhos em casa e tentar inúmeras vezes cozinhar aquele prato
que tanto desejamos. Estando sozinhos, fazemo-lo infinitas vezes. Mas quando
sabemos que alguém está a ver, então tudo se torna mais complicado. Não é o
medo de falhar, é o medo de falhar e alguém estar a ver.
Da
mesma forma, quando tropeçamos na rua, ou caímos no passeio, na lista Top 3 de
preocupações está «alguém viu?». Pode não ser certamente a primeira coisa em
que pensamos quando caímos na rua, mas está definitivamente no pódio das
preocupações.
E
é esse medo de estar alguém a ver que impede que muitas coisas se façam e que
muitos objectivos se atinjam. Esse receio de ter olhos a ver-nos falhar faz-nos
não tentar mais vezes até conseguir. Isto é válido para o prato que queremos
saber cozinhar e para o trabalho que queremos ter na vida. É válido para
apresentar propostas ao nosso chefe ou para montar o móvel lá de casa.
Outra
coisa que nos impede de tentar coisas novas, ou aprender é quando não somos
apenas nós que estamos em risco. Quando queremos mudar de emprego mas isso
coloca em risco a vida dos nossos familiares é provável que fiquemos mais
acanhados. Colocar em risco aqueles de quem gostamos é mais difícil do que
ficarmos nós próprios em risco.
O
problemas das pessoas não irem mais longe não é o medo de cair, é o medo de
estar gente a ver. (...) Não ter medo não significa ter coragem para tomar
medidas difíceis, significa tomá-las sem pensar nas consequências. Não ter medo
é mau, é inconsequente. E entre não ter medo e ser-se corajoso vai uma
distância grande.
O
corajoso não é aquele que salta para o escuro sem pensar, é aquele que pensa
muito bem nas consequências e decide saltar. Sem empurrar ninguém.
» Sérgio Diamantino, no Diário Digital