quarta-feira, 8 de junho de 2011

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E é sempre assim a cada dia 8. As memórias, ainda tão frescas, mas que já parecem tão distantes, levam-me sempre no tempo.
É quase meia noite. Foi um dia cheio, com esperas, testes, análises, longas caminhadas à volta do hospital, pequenas contracções e tantas emoções. Nada, do que se esperava, aconteceu e estavamos prontos para dormir.
Começas a dar sinais mais fortes. "Quer nascer!", pensei num misto de alegria e medo. A médica alerta para um registo que indicava que não estarias bem, tinhas o cordão umbilical à volta do pescoço, e o ritmo cardíaco instável. Preparam tudo para um parto de emergência. Segue-se tanta coisa. Mas sabes, sinto-as todas ainda, tão claras na minha memória, que seria capaz de as enumerar uma a uma. A melhor de todas, nas horas que antecedem o teu nascimento, é a do teu pai. O meu melhor amigo, o melhor de todos os companheiros, sempre de mão dada, sempre firme, forte, seguro, confiante, positivo.
Não consigo evitar as lágrimas antes de adormecer. Passámos por tanta coisa os três, desejámos tanto que nascesses de parto normal e, depois de todas aquelas horas e esforço, afinal não pôde ser... Acordo e não te vejo, não estás ao meu lado. Tenho de esperar muito tempo até que te possa abraçar, finalmente abraçar. Reconheço-te ao longe pelo choro. Sabia que eras tu. Não sei explicar, mas sabia. E eras, eras tu.
Abraço-te. Envolvo-te num longo abraço. Esqueço as dores, as horas intermináveis, os medos e os receios.
Sei que choro, mas agora de alegria, de amor em estado líquido.
Estamos juntos, depois de 9 meses à tua espera. Depois da vida toda à tua espera.
E é mesmo verdade, existe um doce fio invisível. Aconteça o que acontecer.