sábado, 22 de janeiro de 2011

*

"Já mudei de casa muitas vezes. MUITAS vezes mesmo.
Os amigos mais recentes não acreditam; os de sempre já não dão muita importância ao facto - habituaram-se a este espírito nómada, de quem não aceita ficar refém de paredes, num espaço que já nada me diz, ou num bairro que já me contou todas as histórias.
Acredito que 'mudar' é uma atitude tão coerente quanto 'não mudar' - há os que não mudam e vivem sem que nada perturbe a tranquila passagem do tempo. E as tais paredes vão ganhando 'personalidade'; cada canto, cada móvel, cada objecto, dia após dia, vai acumulando bocadinhos das nossas vivências. Mudá-los (mudar) implica largar esse 'timeline existencial' e abanar aquilo que muitas vezes já se transformou em comodismo.
Quantas vezes podiamos ter seguido outro caminho e não o fizemos com medo de perder algo importante - e mais vale um pássaro na mão... Quantas outras vezes negámos o nosso primeiro instinto que nos diz: 'faz!', porque a voz do nosso receio nos avisa: 'vai correr mal!' - e quem te avisa...
E o que nos leva a desistir de coisas que nos fazem sentir-nos bem porque achamos 'que não há sol que sempre dure...' e, por isso, é melhor ir já para dentro...

É curiosa a forma como usamos os nossos provérbios e acreditamos que resumem e traduzem muita da chamada 'sabedoria popular' - eu penso que reflectem a zona de conforto onde muitos preferem viver. Porque, de facto, mudar dá uma trabalheira... É tão mais simples ficar quieto."

*- "Quem muda", por Fernanda Freitas, ou de como esta crónica diz tanto de mim.