terça-feira, 25 de maio de 2010

Estarei eu a ver o filme ao contrário?

Um almoço, dois amigos, tema central: o casamento (de ambos) que vai mal...

Amigo 1 - "(...) e as coisas já não andam bem há muito tempo e andamos a balões de oxigénio, quase não falamos, não há sexo, os miúdos são o centro de tudo e o que é certo é que estamos ambos infelizes. Já falámos sobre isto um milhão de vezes, mas nada muda, e eu não quero continuar assim, pá, quero viver mais, ser feliz. Parece que estou em coma e isto assim não é nada. Nem na empresa ando bem. Nenhum de nós é feliz. A verdade é essa."

Amigo 2 - "Ehpá, pensa bem. Acho que estás a deitar tudo a perder. Isso da felicidade é relativo, e tens sempre a hipótese de te poderes entreter com umas "amigas". Estás casado há tantos anos, há os putos, as famílias, já viste no trabalho que te vais meter? Só porque não estás feliz? Ehpá, eu e a G. também temos as nossas crises, (ela deixou de gostar de sexo depois do nascimento dos putos), e quando é assim eu vou para um lado e ela para outro, com as amigas, e isto passa-nos. Dez anos juntos, a vida toda equilibrada, a casa, as contas e o caraças, não dá agora para deitar tudo pela janela, só porque não somos felizes. Já pensaste no que vais perder? Sim, porque as gajas depois ficam-nos com tudo e eu não estou para isso, deixar tudo o que tenho em busca da felicidade. Ehpá, isso é dos filmes! Olha, faz como eu, pelo menos pensa nisso. Eu vou-me entretendo com umas "amigas", passo uns bons bocados, vou tendo as minhas férias, viajo quando quero, compro os carros que quero e os luxos todos que a conta conjunta me permite, ela anda entretida com a casa e as amigas e os putos, e a vida vai-se levando assim. Tu pensa bem."

(...) Respirai fundo, caros leitores, respirai.

Dizia uma amiga minha, há uns tempos, que os casamentos portugueses [só os portugueses??] são como as mulheres madrilenas: tudo vive de aparências, tudo parece muito bonito, mas se levantarmos a ponta do véu e aquela linha muito ténue da aparência, só se conseguem ver os rolos de cotão e as teias de aranha acumulados ao longo dos anos.

Mas que raio de casamentos são estes? Que raio de relações são estas? São estes valores que querem passar à geração seguinte? Esta história que ouvi, estes conselhos de amigo (?), parece-me uma operação de cosmética matrimonial... lá está, tudo à superfície. E eu acredito que não há maquilhagem ou laca que resista a tanta falta de honestidade, respeito e transparência. Casar, assim, para quê?