terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mas espera aí

Ele: Só não percebo porque é que estás de boca aberta e lágrimas nos olhos, só porque te disse que tenho um caso ou outro. O meu casamento já acabou há muito tempo, mas é mais fácil manter-me a viver assim, na mesma casa, dividindo contas e férias e a educação dos miúdos, do que virar a vida de pernas para o ar, separar-me, ter de pagar pensão de alimentos e ficar a viver só com metade do meu ordenado. É uma questão de bom senso.
Eu: Bom senso? B-o-m s-e-n-s-o? Mas então espera aí, quer isto dizer (pasme-se) que uma grande maioria dos casais que já não são felizes juntos, não se separa porque, perante a crise, os valores financeiros falam mais alto? E é mais prático assim?
Ele: Sim. Podes ter a certeza que sim.
Eu: Então e o amor? Onde fica o amor? E a felicidade? E a partilha? E os valores incutidos aos filhos? E os princípios? Não te estou a entender...
Ele: Estás sim. Estás é parada no tempo. O amor de hoje já não é o amor que tu sonhas e pelo qual lutas. Esse já passou de moda há muito tempo. Hoje as pessoas são práticas e usam da racionalidade versus emotividade.
(...)
Não sei se me queres convencer a mim dessa tua teoria e prática da infidelidade consentida, ou a ti mesmo. Em qualquer das hipóteses acho triste e pergunto-me como (e quem) é que consegue viver assim, numa permanente e irreversível crise de valores.