quarta-feira, 3 de junho de 2009

Sufocantes

Detesto gente sufocante. Nunca gostei de pessoas repetitivas, sem imaginação, limitadas em criatividade e com conversas que não passam de 3 ou 4 palavras (5 vá, assim num acesso de loucura). Fazem-me lembrar aquele sketch dos gato fedorento "Passo o dia a calcetar" - são de uma medianice... normal, normal, normal.

Não gosto que receber 20 sms por dia a dizer basicamente a mesma coisa, que oscila entre o tenho saudades tuas e o gosto muito de ti. Fico fora de mim quando ao fim de três dias alguém me diz que me adora prá vida... fujo logo, é maluqueira crónica de certezinha absoluta! Não gosto que me liguem para não dizer nada de jeito (então estás boa? o que andas a fazer? então vá, chau - e 1 hora depois toca de ligarem com a mesma ladaínha... nããã, para mim não dá). Não gosto de Melgas, nem de Mikes, não gosto de me sentir presa e que me sufoquem com medo de me perder. Não gosto de controlar (jamais) e de ser controlada (onde foste? quem é que lá estava? a que horas chegas? quem era (após receber sms)? o que é que ele/ela queria? Jaaaaasuuus! "deslarga-me"!) e acredito que a liberdade foi a melhor coisa que alguém se lembrou de inventar e que poucos a sabem aproveitar, celebrar, aceitar e contemplar.

E perguntais vós: mas moça, de onde é que vem este acesso de dislike "sufocas-me-mais-que-muito-pira-te-já--e-rápido-daqui-pra-fora-andor-violeta"?? Hum?
Pois é, vem de um dos meus momentos de observação de espécies raras (e espero que em vias de extinção) que me fez rir sozinha, correndo o risco de alguém pôr em causa a minha sanidade mental (errrr... pois...).
A cena saída de um filme de Almodovar foi esta:
Dia de formação. Coffee break. Até aqui tudo na paz. Colega minha. Um telemóvel. Um namorado. Sete... sim, leram muito bem miúdos, S-E-T-E telefonemas para o namorado (até fiquei com pena do rapaz) para lhe dizer coisas importantes como:
1. - 'more, sou eu, olha é só pra mandar um beijinho. está tudo bem? foste aos correios? o que estás a fazer? já tomaste o pequeno almoço? então vá, bejinhos. amo-te muito (risinhos parvos...).

2. - moreeee, olha, sou eu. a não-sei-quantas ligou para irmos lá jantar hoje, queres ir? ok então vou-lhe ligar a confirmar, tá? beijinhos. amo-te muito, muito, muito.

3. - more, já liguei. é pra estarmos lá as 9. o que é que estás a fazer? ahhh... blá blá blá. então vá. beijinhos. amo-te muitoooo.
4, 5, 6 e 7 nem vou reproduzir. Foi tudo na mesma base prática e infalível táctica do género: deixa-lá-ver-de-que-forma-posso-chatear-o-meu-namorado-e-quem-sabe-fazer-com-que-ele-se-pire-rápido. Digo eu...
Este tipo de lamechice, que ultrapassa todos os limites do bom senso, da saúde mental e emocional de uma relação, que reflecte uma imaturidade e uma falta de confiança e um controlo brutal, deixam-me à beira de um ataque de abanões! Que era o que me apetecia fazer a esta miúda para ver se ela acordava prá vida! Mas não... não fiz, não a abanei. Até porque pelo ar dela isto já é ritual. E se é ritual é porque o tótó do outro lado o permitiu. E se o tótó permitiu agora aguente-se. Até porque, por mais estranho que isto tudo me possa parecer, há mesmo pessoas que gostam desta estranha forma de amar...
Eu por menos, mas muito, muito menos, cantei uma cantiguinha de embalar a um talvez-sim-talvez-não-princípio-de-amizade-colorida que me sufocava o ar, os minutos, os segundos, com onde vais, com quem, a que horas, queres ir ao cinema, e ao teatro, e à praia, e à lua, e fazer isto e fazer aquilo e.......... aiiiiiiiii! Sai daquiiiiii encosto! E digo-vos, só depois de algum tempo é que este meu amiguinho, melguinha e tótó se revelou assim tão Mike. Quando nos conhecemos parecia normalíssimo... com todas as conotações que desta palavra possam advir.
Deixo-vos a música* que lhe cantei quando ele começou a flipar e que foi vencedora de um Grammy que destaca esse vulto da música popular portuguesa de seu nome Clemente (quem??):
"vou partir naquela estrada onde um dia me viste sorrir... vou deixar-te abandonado, ver a flor que-podia-ser-amor-a-sorrir-contentinha-da-vida-e-com-muitos-uffffaaaa-a-partir-pra-longe-daqui-pra-foraaaa. Lai lai lai, lai lai lai, lai lai lai".
* - podem usar a música e a letra adaptadas caso necessitem mostrar a luz a algum "sufocas" que ande a usurpar a vossa sanidade mental. E não pagam direitos de autor. É grátes!