Uma colega minha anda desconfiada do namorado... ui, ME-DO. Eu destesto estas coisas e estas conversas, fazem-se sentir estranha. Tipo, parece que andamos todos aqui a enganar-nos uns aos outros. Para quê??
Bem, voltando à amiga. Está convencida que o gaijo a engana (e ai de alguém que abra a boca para lhe dizer "Ó amiga, mas tem calma, pode não ser nada", que leva logo um grito capaz de fuzilar 10 moscas ao mesmo tempo).
Então, um dia destes pôs-nos a par deste drama. Dizia-nos, num tom com um misto de suspense (qual Agatha Christie) e desespero com nome de Xanax..., que "Ele pensa que eu sou parva! Mas não sou! O gajo anda a chegar a casa mais tarde, todos os dias. Diz que tem reuniões... sim, tá bem, reuniões. Então e essas reuniões só começaram de há um mês para cá? Quando ele já lá trabalha há 5 anos? Nããããã, a mim ele não me engana. E depois anda cheio de mistério com o telemóvel. Ai se eu o apanho!! A sorte dele é que anda sempre com aquela bela merda atrás, senão já lhe tinha revistado tudo! E mais, e aqui é que o meu radar se ligou: não faz amor comigo há 1 mês!"....
Engulo em seco, finjo-me de morta para ver se ninguém me pergunta nada e clico no pause deste filme de Poirot de segunda e penso para mimzinha:
Mas-o-que-é-isto? A-que-planeta-vim-parar? Namek? Nããããã, isto é mais género "ai que sou uma canção do António Variações e agora?".
Depois deste descritivo, "soberbo", continua: "mas eu vou lixá-lo, ai vou vou. Já andei com a R. a espiá-lo. Fomos lá para a porta da empresa, escondidas dentro do carro da R., que ele não conhece, a ver se vinha alguém com ele. Nada. E também já andámos à hora de almoço atrás dele, a ver com quem almoçava. Está com sorte, ainda não o apanhei!".
Está-com-sorte-ainda-não-o-apanhei?? Mas querias apanhá-lo?
Bem, eu já tinha ouvido histórias destas mas nos outros, naqueles muuuuuito afastados de nós. É certo que é uma colega de trabalho, mas é uma pessoa de quem gosto e, sinceramente, este seu lado de Sandra Bullock armada em Miss Detective/CSI da Brandoa deixou-me um bocadinho desiludida.
Não entendo estes filmes. O que é importante e primordial, é que só devemos estar com quem nos quer e nos merece. Para quê esta exposição, este desgaste emocional, esta loucura em grau avançado?
Vigiar, vasculhar, controlar, interrogar, observar e armadilhar as pessoas que connosco vivem e com as quais decidimos um dia partilhar a vida é, no mínimo, esquizofrénico. Se uma pessoa não confia no parceiro, como pode querer partilhar uma vida saudável com ele?
Uma boa conversa connosco próprios para perceber de facto o que se passa e porque é que as coisas mudaram, é um dos primeiros passos válidos. Conversar com a pessoa que está connosco, com quem partilhamos tudo é o passo seguinte. Acho que devemos pensar muito bem no que andamos a fazer. E principalmente no que não andamos a fazer. Porque há sempre, mais cedo ou mais tarde, quem o faça por nós.