quinta-feira, 30 de abril de 2009

Decisões (im) perfeitas?

São raras as situações que fico sem saber o que dizer. Talvez tenha sido das únicas vezes na vida que fiquei sem saber, mesmo, o que dizer. Talvez porque ainda não aprendi a viver com situações que (infelizmente) são cada vez mais comuns. Talvez porque eu não teria a coragem, a força e a serenidade que me permitissem aceitar (sem mil perguntas de porquê, porquê, porquê) uma situação que sentiria sempre como injusta. Acho...
Hoje fiquei sem saber o que dizer a uma das minhas melhores amigas que está grávida de 3 meses, que andava a tentar engravidar há muito tempo (três anos) e quando finalmente conseguiu é confrontada com esta realidade, que me disse hoje por telefone:
"amiga, o meu bebé vai nascer com Síndrome de Down e eu vou recebê-lo de braços abertos, coração rendido e amá-lo ainda mais".
E o meu coração parou e as lágrimas cairam e eu sinto-me estúpida por não ter sabido dizer nada de jeito à minha amiga. Balbuciei um "ó amiga..." e só consegui chorar. Invade-me o preconceito que milhares de pessoas têm em relação às crianças especiais, que não têm todas umas excelente vida como uma das crianças (com Síndrome de Down) mais famosas do nosso país tem, porque é filha de alguém mediático (qb) e tem todas as condições financeiras para que o seu mundo seja flexível e adaptável à realidade. Revolta-me saber que a maioria das pessoas (como eu) tem esteriótipos para os portadores de Down "que só ficam em casa, são gordos e andam sempre com as línguas de fora".
Invade-me a tristeza (e o preconceito, mais uma vez) de pôr em causa esta coragem da minha amiga em saber que o bebé apresenta sintomas de Down, ter a possibilidade de não ter este filho e corajosamente decidir trazê-lo ao mundo e amá-lo com todas as suas forças.
Eu não sei se teria. E digo não sei porque uso cada vez menos a palavra nunca. O nunca encerra em si todas as possibilidades de sermos surpreendidos, sobretudo por nós mesmos. E essa capacidade de surpreender e de me surpreender, felizmente, ainda não perdi.
Faltam-me outras que hoje, especialmente hoje, teriam sido importantes.
Porque estamos perante o milagre da vida e do amor incondicional.