quinta-feira, 9 de abril de 2020

(sobre)viver *


''Quando os grandes desastres acontecem, as pessoas que sobrevivem costumam pensar em mudar de vida. Eles costumam pensar em mudar de vida porque eles tiveram uma breve experiência do que é estar vivo''. (Ailton Krenak)
Curioso como os lugares de sobrevivência nos trazem mais vivência. Tenho pensado muito sobre isto. 
Estamos a atravessar um momento intenso e duríssimo, no qual o que seria de um plano da fantasia se torna na nossa impensável realidade. Um momento avassalador, dos que abalam a nossa estrutura e a nossa forma de nos relacionarmos com a vida.
Impossível não ser um marco, um divisor de águas, para todos nós. Estamos a ser abanados, não há como sermos os mesmos depois de todo o impacto que isto trouxe.
No meio do avançar dos dias, observo o melhor e o pior das pessoas, os lugares de extremo. A negação ou o pânico (encontremos o caminho do meio); a dualidade das coisas. Nunca estivemos tão sozinhos nos quotidianos mas, ao mesmo tempo, nunca cuidamos tanto uns dos outros. A solidariedade e a consciência colectiva e a noção da nossa responsabilidade perante o todo cresce a cada dia. Por um lado, ha o olhar para fora, a relacao com o colectivo; por outro, o olhar urgente para dentro: o recolher, o entrar em contacto com o sentir que isto desperta. Não há fuga possível a isso.
Vejo-nos todos a navegar no mesmo Oceano mas nem todos no mesmo barco: cada um vai remando a partir da sua realidade - como pode, como sabe, com o que consegue sustentar.