«Pergunta a alguém se é feliz e repara como te olharão
desassossegados, como se houvesse um estratagema escrupuloso por detrás da
pergunta ou como se questionasses ali sem pudor o oculto de um segredo
profundo. Repara como se movem inquietos e perguntarão cheios de agnosticismo o
que é isso afinal, a felicidade, quimera tão longínqua como perdida. Haverão de
hesitar numa conclusão firme, optando pela ambiguidade tranquila de um talvez,
tem dias, o espectro acostumado do miserável vai-se andando, cá se vai indo.
Para estes, a felicidade é excepção à regra, deslumbramento exigente e de
condições variadas e nunca inteiramente satisfeitas. Repara como lhes é fácil
entrar na noite de uma tristeza, um par de incidentes lhes basta para uma
eternidade sem fim, porque a tristeza pode ser um vício como qualquer outro.
Ela tem razão quando anuncia que já ninguém liga à felicidade. Pergunta de novo
e observa. Ignora-te de ti por um momento e repara bem como há pessoas para
quem a felicidade é um impossível. E então, de olhos bem abertos, que decidas
escolher o encontro com a felicidade a cada dia. Nasceste para ser
feliz.» | marisa silva |