''Prefiro ser o coração que vive neste
corpo, do que apenas mais um corpo com um coração. Talvez este tenha sido o
maior desafio a que me propus na vida. O desafio de pôr-me à minha estrada,
confiando sobretudo nesta bússola que me bate no peito. Nem sempre é fácil e
linear ignorar as sinalizações alheias, abstermo-nos das direcções dadas pelos
GPS exteriores, mas é sempre dentro de mim que encontro o mapa. Esse mapa que
me tem guiado em todas as caminhadas que tenho escolhido fazer na vida. E
talvez por isso não tenho tempo e nem disponibilidade emocional para
coleccionar rancores ou arrependimentos. Estou sempre tão focada em resolver,
que não tenho tempo para remoer. Não tenho espaço sentimental para as azedas da
vida. Apanho-as, como toda a gente, pelo caminho que sigo; mas dou-lhes a volta
com uma certa pinta, usando uma técnica de malabarismo mental entre a aceitação
(do que não posso mudar) e a persistência (pelo que acredito que está nas
minhas mãos).
Sei que há batalhas que me exigem ser
soldado na trincheira da frente, e guerras onde fico apenas sentada no gabinete
de estatística a contar as perdas. Sei também que há momentos em que fico a
meio das duas posições, à espera de sentir um sinal de fumo a sair do mapa que
me guia. Reconhecer onde estou neste momento, já é por si um conforto.''
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