quando um
filho nos adoece voltamos a (re)conhecer os nossos medos todos. as nossas
fragilidades todas. as nossas dúvidas todas. as temíveis ansiedades,
o lado vulnerável da nossa coragem, da nossa força. quando um
filho nos adoece abre-se dentro do nosso peito um buraco, um vazio, um lugar
escuro, uma sombra que aflige, uma mancha que permanece. tudo fica apertado,
quase que nos falta o ar (corrijo, falta-nos sempre o ar) e a dor de um filho
torna-se a nossa dor, mas vezes mil. vezes muitas vezes mil. queremos trocar
com ele, rezamos para que o quer-quer-que-seja passe para nós, vemos passar à nossa frente a vida toda, regressamos ao lugar onde ele vivia seguro e protegido
(dentro de nós) e o único som que ouvimos é o do nosso coração. bate tão forte
e faz tanto barulho que quase não nos dá tempo, espaço e ar para respirar. para
acalmar. para apaziguar. e para não deixar – nunca – de acreditar. esse quase
que não nos deixa ceder ao medo, chama-se Pai, chama-se médicos, chama-se família
e amigos, chama-se Deus e chama-se fé. a que ampara sempre, a que ilumina sempre, a que não nos larga a mão, nunca.