«Há muitos casamentos. E são muitas
as razões que fazem com que as pessoas se casem. Nem todas são românticas e
etéreas. Isso é só triste e é sem história. Mas o amor é outra coisa. É tão
outra coisa que é aquilo que aqueles que se amam quiserem que seja. E isso
passa também por não haver casamento nenhum. O amor basta-se. Abrigo que tudo
perdoa, tudo espera, tudo dá. "E tantas vezes, até que se perca o sentido
do teu e do meu", disse o padre Bartolomeu Lourenço no Memorial do Convento, ao abençoar o
amor sobrenatural e de primeiro olhar de Blimunda e de Baltasar. Casou-os no
mesmo momento em que os viu partilhar uma tigela de sopa. O amor é assim. Pode
até encontrar-se numa tigela humilde de sopa, partilhada por duas almas e dois
corpos que também não sabiam que iriam chegar ao sítio onde eram esperados. Mas
chegaram.»
| in, coisas d'amar |