domingo, 14 de maio de 2017

sobre pessoas especiais, isto*

«Andou-se muito em poucos passos. O Salvador Sobral não cedeu à tentação de ser outro. Nem a Luísa Sobral. Acreditaram que o amor e a honestidade musical podiam dar fruto numa árvore carregada de produtos embalados. Foram apaziguados e discretos, como só vão os que estão certos daquilo que querem, e trouxeram um prémio que tem um significado muito maior do que o festival. Provaram que ser especial é ser fiel àquilo em que se acredita. Em nenhuma conferência de imprensa ou actuação se viu plasticina moldada, viu-se a desconcertante verdade que nos dias que passam teima em dar lugar ao "ser aquilo que os outros vão gostar". É preciso ter tudo no sítio, porque a tentação para derrapar está sempre a piscar o olho. Ontem ganhou-se muito mais do que um prémio, ganhou-se a certeza já esquecida de que a música não é sobre fórmulas matemáticas, é sobre a genuinidade e o amor. Parece fácil, não é? 
Hoje, ao ver o Salvador e a Luísa serem recebidos por centenas de pessoas no aeroporto, ontem ao ver o Marquês de Pombal ficar baixinho para ouvir o Salvador cantar, fiquei mesmo feliz. Por uma única razão: o talento, o amor, e a beleza das coisas simples ainda espanta o mundo. Se isso não é uma vitória de fazer tremer o coração, então não sei o que será.» | bruno nogueira |