sábado, 3 de dezembro de 2016

tão isto, que podia ser sobre mim*

‘’Existe um profundo silêncio dentro de mim. Um silêncio imenso e cheio de paz. Para ter acesso a ele, é preciso ficar quieta e um tempo de silêncio real. Às vezes horas. Depois de ter lá chegado, porque é um estado que se agarra, toda a vida flui e parece fácil. Como se afinal tudo sempre tivesse sido fácil e harmonioso. É como se houvesse um outro mundo, acima deste, a que se pode ter acesso. Os passos que dou, ou as palavras que posso proferir, saem com doçura e parecem contagiar o ambiente à volta que, por sua vez, e por isso mesmo, me devolve ainda mais harmonia. Dentro de mim, para aprender a receber as bênçãos sem ter medo de não as merecer, tento apenas repetir assim indefinidamente 'agradeço, agradeço, agradeço, agradeço, agradeço...' Se passo por um espelho, parece que tenho uma outra cara, mais de acordo, mais simples, mais nova. Às vezes engano-me, volto a fazer o que costumava, arranco por ali fora e perco o 'estado'. Mas como já sei que ele existe, posso a qualquer momento que queira, fechar os olhos, ficar em silêncio e recomeçar.’’ | marta gautier |