quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

tão isto, que podia ser para ti [meu filho] ❥

«Teresa,
amor é um remédio efervescente que se vende na esquina, não precisa de receita, não tem tarja, não tem contra-indicação. Vende na farmácia das moças de branco, na padaria do senhor com lápis na orelha, amor se vende na banca de revistas caindo aos pedaços com a porta de ferro que encerra as tardes quando desce – e passa-se um cadeado inseguro para proteger o conhecimento disponível para o dia seguinte. Toma-se com água, normalmente, mas temo que possamos ter inventado um jeito novo de ingerir. A seco. Amor bruto na boca, derretendo acidamente, borbulhando nas papilas gustativas, explodindo em pequenos fragmentos para desligar no tobogã-esôfago até chegar na boca do estômago – frio na barriga – e ser finalmente absorvido pelo nosso corpo, que cura. Não há milagre no amor. É sobre eficácia: o corpo recebe o remédio, assimila e nos devolve a saúde. Os doentes descrentes preferem o ódio homeopático e distribuem-no gratuitamente no trânsito, nos elevadores, nas filas, em tudo que se move sobre duas pernas há potencialmente gotas de desamor. Pobres pacientes terminais. Guarde no bolso, filha, a bula. E ao se deparar com esses outros, ofereça a pastilha efervescente.
Do seu pai,
Pedro