«Teresa,
amor é um
remédio efervescente que se vende na esquina, não precisa de receita, não tem
tarja, não tem contra-indicação. Vende na farmácia das moças de branco, na
padaria do senhor com lápis na orelha, amor se vende na banca de revistas
caindo aos pedaços com a porta de ferro que encerra as tardes quando desce – e
passa-se um cadeado inseguro para proteger o conhecimento disponível para o dia
seguinte. Toma-se com água, normalmente, mas temo que possamos ter inventado um jeito
novo de ingerir. A seco. Amor bruto na boca, derretendo acidamente, borbulhando
nas papilas gustativas, explodindo em pequenos fragmentos para desligar no
tobogã-esôfago até chegar na boca do estômago – frio na barriga – e ser
finalmente absorvido pelo nosso corpo, que cura. Não há milagre no amor. É
sobre eficácia: o corpo recebe o remédio, assimila e nos devolve a saúde. Os
doentes descrentes preferem o ódio homeopático e distribuem-no gratuitamente no
trânsito, nos elevadores, nas filas, em tudo que se move sobre duas pernas há
potencialmente gotas de desamor. Pobres pacientes terminais. Guarde no bolso,
filha, a bula. E ao se deparar com esses outros, ofereça a pastilha
efervescente.
Do seu pai,
Pedro.»
Pedro.»