«Aquela coisa de nos
olharmos uma e outra vez e de sentirmos que não é aquilo. Que não somos aquilo
que nos cobre a pele. Que somos outra coisa, mas que essa outra coisa está
coberta por camadas e camadas de coisas que não somos nós. E aí é preciso
parar. Precisamos de ficar bem quietos em relação a tudo o que nos é exterior,
porque temos contas a ajustar com o que está dentro. Exactamente como arrumar
uma estante de livros já lidos. Vamos abrindo um e outro, olhamos para as datas
e para as geografias anteriores escritas nas primeiras páginas. Rememoramos e
encontramos um sítio para esses pretéritos disseminados. É mais ou menos assim.
Um exercício silencioso, metódico e intransmissível.»
| in, coisas d’amar |