sexta-feira, 29 de julho de 2016

tão isto que podia ser sobre mim*

«Quem tem sorte, agradece. Agradece quando olha para o céu no final do dia e para os pés descalços no chão da manhã. Quem tem sorte sente as gotas na cara, num banho quente merecido. Quem tem sorte abraça-a com força, para lembrar o quanto a quer reter. Dizem que quem tem sorte sorri, mesmo quando não parece ter sorte nenhuma. E, ainda mais importante, sorri sempre para os outros, sendo os outros a humanidade abrangente com que se cruza, que vai desde o vizinho do elevador, ao carteiro, ao rapaz da garagem e ao condutor que vai, lado a lado, na fila vizinha. A sorte não vinga apenas na audácia da tentativa, a sorte vinga sempre num sorriso.
E se há dias em que parece que a sorte não acordou para brindar o dia, há outros em que a sorte acorda antes de nós. Na verdade, não tenho técnica para a sorte que tenho, mas tenho um sorriso cravado na cara que não obedece ao lucro tangível dos dias. É apenas uma forma merecida de agradecer essa sorte primeira de acordar todos os dias para fazer aquilo de que gosto.»