«Diz-se que não devemos regressar aos lugares onde fomos
felizes. Creio que isso terá que ver com a impossibilidade de reconstituirmos
as circunstâncias anteriores onde teremos sentido essa felicidade impossível de
reconstituir. Mas esse ponto é demasiado nostálgico. Pelo menos para alguém que
sente que o mais importante de tudo é sentir verdade no que está a viver no
momento determinado que está a acontecer. E isso é até às últimas
consequências. Porque a nossa verdade pode ser o mais maravilhoso dos lugares,
sem que importe realmente o entorno. Ou então não. Pode ser um lugar terrível,
no contexto mais idílico. A vida tem essas variáveis todas. Equação imperfeita
e inacabada. Nós e a vida. Seja como for, não acho a mínima piada a existências
em nuvens de algodão. Creio que as quedas, por mais agrestes que sejam, têm em
si aquela parte maravilhosa de podermos sempre sobreviver-lhes. Com alguma
sorte, mais blindados, mais impermeáveis. Os contrastes são bons. Bate neles um
coração. E isto é para mim tão certo quanto adorar o presente maravilhoso que é
o presente do indicativo.»