quarta-feira, 11 de maio de 2016

tão isto que podia ser sobre mim*

«Os dias de sol. De sol a sério, franco e inequívoco. Sol que dá (ainda mais) vontade de deixar lá para trás a memória de cada Inverno literal ou metafórico em que a possibilidade de sol parecia invenção de um deus louco. E com sol, é mais fácil. Parece tudo tão mais fácil. Cada uma das enumerações imperceptíveis dos nossos dias com aquela ligeireza boa. E acordarmos como páginas limpas de um caderno novo. O jogo que parece que é repetido e antigo como o mundo é este: andarmos sempre entre dois pólos, feitos trapezistas. O quente e o frio. A luz do sol e o cinza das nuvens. O doce e o amargo. A felicidade e a infelicidade. O bom e o mau. Os opostos todos que a vida engendra e que nos dão hipóteses maravilhosas de persistir, de resistir, de reinventar. De baralhar as cartas e de dar de novo. E, claro, sempre naquela instabilidade muito frágil. Fio invisível que nos sustenta e que nos abre os caminhos. Tantas e tantas vezes sem rede.»