«Os dias de sol.
De sol a sério, franco e inequívoco. Sol que dá (ainda mais) vontade de deixar
lá para trás a memória de cada Inverno literal ou metafórico em que a
possibilidade de sol parecia invenção de um deus louco. E com sol, é mais fácil.
Parece tudo tão mais fácil. Cada uma das enumerações imperceptíveis dos nossos
dias com aquela ligeireza boa. E acordarmos como páginas limpas de um caderno
novo. O jogo que parece que é repetido e antigo como o mundo é este: andarmos
sempre entre dois pólos, feitos trapezistas. O quente e o frio. A luz do sol e
o cinza das nuvens. O doce e o amargo. A felicidade e a infelicidade. O bom e o
mau. Os opostos todos que a vida engendra e que nos dão hipóteses maravilhosas
de persistir, de resistir, de reinventar. De baralhar as cartas e de dar de
novo. E, claro, sempre naquela instabilidade muito frágil. Fio invisível que
nos sustenta e que nos abre os caminhos. Tantas e tantas vezes sem rede.»
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