sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

inspiração para o fim-de-semana ❥

1. ler {e ver}
2. ouvir
4. voltar

Palavras que podiam ser minhas, soubesse eu escrever assim:

«A vida nem sempre nos dá motivos para agradecer. Muitas vezes, e quase em catadupa, ergue as suas mãos gordas e enche-as de pedras para nos atirar. Fintamos a primeira leva de pedras com um sorriso de fazer derreter sóis e guerras e…voltamos ao lugar de antes. Olhamos com atenção para tudo o que somos e, com um suspiro de alívio, verificamos que estamos bem. Tudo intacto. Não há danos a registar e a primeira lufada de pedras não levou a melhor. Somos mesmo bons. Não é qualquer tragédia que nos faz soltar os escuros que temos cá dentro. No momento em que estamos a perceber se tudo está, de facto, no lugar onde deve estar, ouve-se o restolhar das mãos gordas da vida. Um barulhinho pequeno e quase morno que não faz antecipar zunidos ferozes. Silêncio. Mais uma leva de pedras e, DESTA VEZ, a vida tem as mãos ainda mais cheias. Abrimos os olhos de espanto e de desconcerto e, de repente, caminha na nossa direção uma enxurrada de pedras extraordinária. Com o amor que nos temos (a nós, aos outros e aos que são Vida em nós) enchemos o peito de vento arraçado de Mar do Norte e cortamos as pedras TODAS aos bocados. Uma a uma. Quando nos permitimos respirar fundo, já todas as pedras nos fazem cócegas nos pés. Somos mesmo bons. Não é qualquer pedrita que nos pode retirar descanso à alma. Exatamente no momento em que decidimos contemplar as cinzas frias das pedras que vencemos, silêncio. Mais uma leva de pedras e, DESTA VEZ, a vida hesitou. Recuou. Encolheu-nos os ombros para nos distrair. Mais uma leva de pedras e, desta vez, a vida pensou duas vezes. Duas, não. Desta vez a vida pensou três vezes. Três vezes pensou a vida antes de nos atirar a terceira leva de pedras. E o que fizemos nós? Sentámo-nos à sombra de uma segurança que não existe. Sentámo-nos à sombra de todas as pedras que (QUASE) vinham lá. Confusa, perdida, atordoada e quase zangada, a vida sentou-se devagar. Também. Perguntou-nos o motivo da nossa desistência e, ao distrair-se com a pergunta que nos fez, não reparou que, NAQUELE MOMENTO, éramos nós que enchíamos as mãos com flores para atirar à vida. 
Não me enganei, não.  
Lê outra vez.  
Éramos nós que enchíamos as mãos com FLORES para atirar à vida. 

Com flores.» 
| Marta Arrais |

» créditos imagem | rita tojal quintela para tribe land