No final do ano passado, e após uma fase de alguma turbulência,
prometi a mim mesma guardar tempo para fazer o elogio do silêncio. Para sentir
o chão que piso sem pressas. Para saborear tudo o que ganho da (e na) vida,
unindo o essencial à substância. Nem sempre consigo cumprir esta promessa que (me) fiz. Nem
sempre encontro a disciplina de me concentrar em mim e desligar do (meu) mundo.
Às vezes ainda confundo egoísmo com amor-próprio, renovação com distância,
contemplação com alheamento. Às vezes ainda dou por mim a sentir-me mal por
gostar muito dos outros, mas gostar ainda mais de mim.
O que me (e nos) falta tantas vezes, é tempo para recuar. Tempo
para medir. Tempo para ponderar. Tempo para cuidar. Tempo para despojar
a razão e o coração. Tempo para «arrumar» a casa e conhecer melhor tudo o que vive do lado de dentro. Tempo para ter a coragem de por-nos, uma e outra vez, «a zeros com a vida».
» créditos imagem | rodrigo graça