A casa só para nós dois. Mas um silêncio que
estranhamos. Um tempo que precisamos, que nos faz tanta falta para mimos só nossos, o namoro dos tempos a dois, as conversas com princípio, meio e fim e zero interrupções, olharmos um para o outro e reparar, com tempo, o mesmo amor. Mas há um silêncio
que estranhamos. Cinema, rir tanto, jantar, passear por Lisboa, chegar tarde, o coração feliz. Podia ter dormido a manhã
e o dia todo. Às vezes peço isso, nos meus pensamentos. Mas acordei à mesma hora de sempre, cedo, aos primeiros sinais de luz. E por mais voltas que dê na cama tenho
zero sono, sinto as baterias carregadas, preciso levantar, deixar o dia começar. Mas este silêncio é tão
estranho. A mesa do pequeno-almoço só para nós, sem os cereais, o chocolate nas
torradas, as graças do Martim, o barulho bom que somos todos juntos. É bom, mas é estranho.
É tão bom este tempo a dois, é tão bom fazer novos planos a dois, ouvirmo-nos com atenção, saborear o silêncio a dois, renovar votos, cimentar as mesmas certezas que um dia nos fizeram apaixonar, aproveitar ao minuto o amor. E ao mesmo tempo sentir tantas, mas tantas saudades deles.
Juro que sinto o coração apertado.