Chorei com a dor dele. Não dormi bem. Levantei-me vezes sem conta para ver se estaria bem, se estaria a sofrer com dores, se teria sede, fome. Fiquei com ele no chão, dei-lhe todo o mimo do mundo, até o sentir tranquilo, com a respiração serena.
Quebrei as regras todas. Dei-lhe água no quarto, de noite, na penumbra, só eu e ele. Falei-lhe baixinho, disse-lhe que ia passar, que daqui a pouco estava bem, a correr e feliz como sempre.
Voltei a quebrar as regras quando não quis comer. Dei-lhe bolachas maria e pão, mais (muito mais) quantidade que a autorizada.
Pensei em tudo, todos os cenários, todos os exames, o medo do desconhecido. Falei horas a fio com a nossa querida veterinária. Fiz mil perguntas, recebi todas as respostas com a maior paciência, carinho e amor do mundo. Gosto tanto da nossa querida Alexandra, a melhor veterinária que o Sal podia ter.
E o que aconteceu ao Sal não foi (não é) nada de muito grave. Daqui a uns dias estará bem, de certeza. Mas doeu, dói, ver o Sal assim. Murcho, triste, de olhar vazio, sem expressão, sem alegria. Não é o Sal. O meu Sal.
Há quem ache isto exagero, parvoíce, coisa de gente doida, até. Mas eu senti-me um bocadinho mãe deste pequenino Sal. Na protecção, no cuidado, na tentativa de acalmar, sossegar, como faço com o Martim. Quando está doente, quando tem febre, quando não quer comer, quando se magoa, quando fica triste ou assustado, quando triplico os mimos nos dias mais complicados.
Quebrei as regras todas. Segui o meu coração. Procurei encontrar uma forma de minimizar a dor, o desconforto, o susto. E confesso que não estava preparada para este medo gigante que senti de alguma coisa grave poder acontecer ao Sal.