segunda-feira, 31 de março de 2014

365 grateful »♥«

Os meus pais sempre nos habituaram a dar mais valor ao ser do que ao ter. Pelo exemplo. Trabalharam sempre muito para nos dar tudo o que precisávamos para sermos (verbo ser) felizes. São comedidos, mas vivem, aproveitam a vida, ensinaram-nos a fazer o mesmo. O dinheiro tem apenas a função que cumpre: honrar compromissos, e proporcionar qualidade de vida às filhas e aos netos. Nada mais.
Dos meus pais não vamos herdar nada. Absolutamente nada. Falo de bens materiais, falo de coisas, falo do verbo ter. Falo de casas, de carros, de mobílias vintage, jóias de família, de pratas ou porcelanas, de coisas guardadas em baús e fechadas a sete chaves para um dia ser nosso, das filhas e dos netos. Nada. Os meus pais não têm absolutamente nada para nos deixar. Falo de coisas. Falo de bens. Falo de ter.
E agora falo de ser. Porque na conjugação do verbo ser, os meus pais deixam-nos como herança a vontade de fazer pela vida, a capacidade de acreditarmos, sempre, que somos nós quem desenha e define o caminho nesta vida; deixam-nos a característica que melhor nos define, a capacidade de adaptação, a resiliência perante as adversidades da vida, o optimismo e a certeza de haver sempre um lado bom para tudo, a flexibilidade, a tolerância, a paixão pela vida, pelas coisas pequenas, pelo encanto, pelo amor ao outro, a generosidade de dar sem pensar se virá algo em troca, o altruísmo, o conceito de família, de união, de cedência, de resistência à passagem do tempo, do amor próprio, da confiança, da serenidade, da fé acima de tudo, do amor, sempre, sempre, sempre do amor, do valor de um abraço e da importância do perdão e da gratidão.
Acredito que para muitos isto não será assim tão valioso. Aceito que nos digam que não temos nada. Absolutamente nada. Concordo. Não temos mesmo nada. Ter.
Para nós, os meus pais deixam a maior e melhor herança que poderíamos receber. Deixam o que são e como são. E é esta herança, acima de qualquer outra, a que quero deixar aos meus filhos: a verdadeira diferença entre o verbo ter e ser. É a que, para mim, para nós, faz toda, mas mesmo toda, a diferença neste mundo.