O Rodrigo, o mano mais velho do Martim, andava há uns dias a preparar uma apresentação para a disciplina de Português. Disse-nos qual era o tema, os objectivos, explicou como gostava de fazer a apresentação, pesquisou, organizou, leu, fez o ppt, preparou-se. Pedimos que nos fizesse a apresentação. Como pedimos em qualquer trabalho que tenha e como fazemos antes dos testes, funcionamos como uma espécie de júri. O pai o mais benevolente, eu a mais exigente.
Fez a apresentação. Estava nervoso. Não saiu bem. Tinha buracos nos conteúdos, falhas, faltava consistência, um "corpo" da apresentação mais bem estruturado, com um fio condutor. O pai ajudou com os tópicos que faltavam, eu trabalhei com ele a forma, a coerência entre o que ia dizer e o como ia dizer.
Barafustou de todas as vezes que lhe disse pousa a caneta, descruza os braços, evita as bengalas do pronto, do tipo, do talvez, do acho, do basicamente. Olha nos olhos, sorri, distribui o olhar, não te foques só no professor, ganha aliados nos teus colegas; repete tudo, mais uma vez, do início; corrige esta parte, volta atrás, mais uma vez, repete.
Ficou mesmo zangado. Irritado com tanta minuciosidade. Disse, no fim, que não percebia o que é que ganhava em não dizer acho, ou não agarrar na caneta enquanto falava ou evitar talvez ou se calhar.
Ligou-nos à hora do almoço. Eufórico, eléctrico, doido de alegria. Teve 18. A melhor nota da turma, a sua melhor nota de sempre.
Quando chegou a casa deu-nos um abraço, um grande sorriso e um obrigada. Foi o nosso 18. O melhor de sempre.