Quando passeio agora com o Martim
pelas ruas movimentadas do nosso novo bairro, tenho as memórias mais felizes da
minha infância coladas a estes dias. São dias de reconhecimento, de um tempo em
que não havia alegria maior do que poder ir com a minha mãe para o trabalho.
Férias da escola e eu rezava para que a minha avó não pudesse ficar comigo para
eu ir “trabalhar” com a minha mãe. Lembro-me da alegria que sentia quando chegavam
esses dias e podia ficar por ali, feliz da vida entre penteadores, secadores,
escovas, pentes, tintas, tesouras, conversas das tias da Avenida de Roma, almoços
no meu querido Frutalmeidas, a bica no Luanda, as flores e os enfeites de Natal
da Romeira, as luzes da minha avenida favorita: a da Igreja. Sonhava (e
desejava com todas as forças) poder, um dia, viver ali, no bairro que guarda a
minha igreja favorita.
Muitos e muitos anos depois,
tantas e tantas voltas dadas, a vida fez-me a vontade. Vivo no bairro mais
bonito de todos, aquele que mais gosto, onde há movimento, cor, as pessoas ainda
se conhecem pelo nome, as lojas de comércio tradicional tratam bem os clientes,
cuidam deles, decoram-lhes os gostos, mandam cumprimentos à família,
recebem-nos calorosamente. Sou sempre tratada por menina, as senhoras do
Mercado brincam com o Martim, sabem o nome dele, há sábados que têm guloseimas
para ele. Andamos a pé, andamos muito a pé. Temos um carrinho de compras,
fazemos todo o caminho de mão dada, a contar histórias, a dizer bom dia/boa
tarde, a sentir gratidão pela sorte imensa que tivemos de poder um dia viver no
Bairro da nossa vida.