quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Viver em Lisboa, no nosso Bairro favorito


Quando passeio agora com o Martim pelas ruas movimentadas do nosso novo bairro, tenho as memórias mais felizes da minha infância coladas a estes dias. São dias de reconhecimento, de um tempo em que não havia alegria maior do que poder ir com a minha mãe para o trabalho. Férias da escola e eu rezava para que a minha avó não pudesse ficar comigo para eu ir “trabalhar” com a minha mãe. Lembro-me da alegria que sentia quando chegavam esses dias e podia ficar por ali, feliz da vida entre penteadores, secadores, escovas, pentes, tintas, tesouras, conversas das tias da Avenida de Roma, almoços no meu querido Frutalmeidas, a bica no Luanda, as flores e os enfeites de Natal da Romeira, as luzes da minha avenida favorita: a da Igreja. Sonhava (e desejava com todas as forças) poder, um dia, viver ali, no bairro que guarda a minha igreja favorita.

Muitos e muitos anos depois, tantas e tantas voltas dadas, a vida fez-me a vontade. Vivo no bairro mais bonito de todos, aquele que mais gosto, onde há movimento, cor, as pessoas ainda se conhecem pelo nome, as lojas de comércio tradicional tratam bem os clientes, cuidam deles, decoram-lhes os gostos, mandam cumprimentos à família, recebem-nos calorosamente. Sou sempre tratada por menina, as senhoras do Mercado brincam com o Martim, sabem o nome dele, há sábados que têm guloseimas para ele. Andamos a pé, andamos muito a pé. Temos um carrinho de compras, fazemos todo o caminho de mão dada, a contar histórias, a dizer bom dia/boa tarde, a sentir gratidão pela sorte imensa que tivemos de poder um dia viver no Bairro da nossa vida.