terça-feira, 23 de julho de 2013

Ontem

Andei o dia todo com um nó na garganta. Parecia que tínhamos voltado no tempo e que era, outra vez, dia 17 de Setembro, o Martim entrava pela primeira vez na Creche e passava o seu primeiro dia inteiro longe de mim, de nós. Só eu sei o que passei naquela primeira semana e só eu sei como sou grata à melhor Creche do mundo pelo acolhimento e integração que fizeram ao Martim (e a mim).
Ontem foi quase a mesma coisa. Quatro semanas sem ir à Creche, sem estar com os amigos, as Educadoras, sem a rotina de acordar muito mais cedo e ter as actividades todas planeadas, teve um impacto gigante na hora em que o Martim percebeu que esta espécie de férias com operação e recuperação e mãe e pai sem limite de tempo ou horas, tinha chegado ao fim. 
Chorou, fez birra, pediu po' favor, mamã, não vás ao t'abalho, fica com o Ma'tim... e fez beicinho e chorou mais e só acalmou quando chegou à Creche e passou para o colo da Rita. Da sua mais que adorada Rita. E o dia dele correu bem. E não chorou nem mais um segundo. E comeu lindamente e brincou e dormiu sozinho e brincou mais e, disse-me a querida Rita, parecia que tinha estado ali todos os dias, sem fitas, birras ou choros.
E eu? Eu saí do carro com as lágrimas a não darem tréguas por nada. Com o Martim a chamar por mim e a pedir colo. Liguei duas vezes para a Creche e não liguei mais por vergonha e porque, verdade seja dita, confio naquelas pessoas que são as melhores das melhores e sabem o que estão a fazer. 
Mas sou uma mãe-galinha, que querem. Passei o dia com um enorme aperto no peito, um nó na garganta e o coração pesado da culpa que sinto, tantas vezes, por achar que podia dar mais, sempre mais do que sou e do tempo que queria ter.
E depois ele chegou, no final do dia, com aquele sorriso onde cabe o mundo, os dois braços pequeninos que me envolvem e onde caibo inteira e os olhos brilhantes e felizes com o nosso reencontro. É a melhor parte do dia de qualquer mãe/pai.
E os medos e a culpa e os nós evaporaram. E a certeza (muito próxima de absoluta) de ser este o caminho certo, de serem estes os passos e os ritmos certos (e possíveis por agora) voltou a reinar do lado certo, muito certo, do meu peito de mãe. Muito galinha, nada a fazer.