terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Falta um dia para este 'fim do dia'




Esperei-te no fim de um dia cansado, à mesa do café de sempre. O fumo, o calor e o mesmo quadro na parede já azul poente. Alguém me sorri do balcão corrido, alguém que me faz sentir que há lugares que são pequenos abrigos, para onde podemos sempre fugir.
Da tarde tão fria há gente que chega e toma um café apressado. E há os que entram com o olhar perdido, à procura do futuro no avesso do passado. O tempo endurece qualquer armadura e às vezes custa arrancar, muralhas erguidas à volta do peito, que não deixam partir nem deixam chegar.
O escuro lá fora incendeia as estrelas, as janelas, os olhares, as ruas, cá dentro o calor conforta os sentidos num pequeno reflexo da lua. Enquanto espero percorro os sinais do que fomos que ainda resiste, as marcas deixadas na alma e na pele do que foi feliz e do que foi triste.
Sabe bem voltar-te a ver, sabe bem quando estás ao meu lado, quando o tempo me esvazia, sabe bem o teu abraço fechado. E tudo o que me dás quando és guarida junto à tempestade, os rumos para caminhar no lado quente da saudade.
[Mafalda Veiga, 'Fim do dia']