quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Da Parentalidade

"[...] Vejo demasiadas vezes os adultos de referência na vida das crianças exigir o que não fazem e assumirem-se como modelos de perfeição, sucesso e felicidade que não são na realidade. Numa tentativa de servir de modelo, falam mais facilmente sobre o que têm ou conquistaram do que dos obstáculos que necessitaram vencer e das inúmeras vezes que falharam para lá chegar. Colocam-se a si próprios num modelo de intangibilidade que, exemplo após exemplo, só vejo criar distância e incompreensão. Se quando os nossos bebés caíam e esfolavam um joelho nos baixávamos á sua altura para encurtar a distância da dor com um abraço, é importante que não nos esqueçamos de manter a mesma proximidade á medida que crescem e as quedas da vida mudam as dores de lugar. Se por cada insucesso dos nossos filhos formos capazes de lhes falar de forma genuína de algo semelhante que já vivemos, da experiência que tivemos para os tentar ultrapassar ou da forma como lidámos ou não com o nosso redondo falhanço, seremos certamente mais úteis ao seu crescimento. De perigosos modelos ideais eles já têm uma boa dose de que se alimentar, na escola, na televisão, no cinema e nas revistas.
Uma coisa é a senilidade de permitir que os nossos pequenos tiranos, que os manuais pediátricos tão bem descrevem, nos  manipulem e anulem. Outra, bem diferente mas não menos grave, é pensar que são extensões de nós próprios e projetemos neles todas as nossas frustrações ou ansiedades. [...]"
Genuína e certeira como sempre. Pela minha querida M., no meu adorado "Deixa Entrar o Sol".