terça-feira, 24 de maio de 2011

Mea culpa

Não consigo imaginar o que sentirá uma mãe perante uma birra estridente de um filho no meio da rua. Não consigo imaginar o que estaria a sentir aquela mãe, que vi no supermercado, por baixo daquele sorriso nervoso, daquela capa de serenidade e benevolência. A criança, com não mais de uns 5 anos, fingia que chorava, gritava muito alto, esperneava e bracejava no meio do chão [sim, atirou-se para o chão] a chamar a mãe de má e egoísta porque insistia que queria um chupa-chupa e a mãe lhe dizia, com toda a calma do mundo, que tinham muitos em casa e que não lhe ia comprar mais nada naquele dia. Os gritos da menina eram arrepiantes, num volume exageradamente alto e acompanhados de um contorcer de braços e pernas que deixaram todas as pessoas à volta [naquela caixa e nas circundantes] com um misto de olhares: uns de compaixão pela mãe, outros de crítica velada por não lhe dar um tabefe bem dado, outros ainda de perplexidade ao pensar como é que a criança chegou aquele ponto de birra. De gritar, chamar nomes à mãe, atirar-se para o chão e fingir um choro tão sentido. Como se a mãe, em vez de apenas lhe ter dito não ao chupa-chupa, lhe tivesse dado uma grande e valente tareia.
E eu, ao ver todo aquele aparato e a impassividade, nervosa, da mãe, só pensava: se calhar esta mãe também achou gracinha aos olhinhos de mel que a sua menina lhe fez quando ralhava com ela... se calhar também se derreteu toda quando lhe calçava os ténis e ela os descalçava logo a seguir, e voltava a calçar e ela a descalçar e lhe ralhava e ela fazia olhinhos e a mãe, tonta de amor, derretia-se toda com a sua bebé... e só dizia ai ai ai e a bebé ria e a mãe também, e jamais a filha entendeu que a mãe estava a ralhar a sério e com razão. Se calhar foi isso. E se calhar, mesmo só com 8 meses, mas muita esperteza em cima, é que eu vou ter de ser mais forte na altura de falar sério com o Martim e de o fazer entender que há alturas para tudo: para mimar, brincar, fazer olhinhos e para aprender e entender que "não" é "não", que ele não pode fazer tudo o que quer, e que meninos obedientes e bem educados são o reflexo de pais equilibrados e com bom senso.
Mesmo que me doa na pele vê-lo chorar muito, com aquelas lágrimas todas, grossas, sentidas, com muito soluçar, só porque alterei o tom, a expressão facial, e ralhei com ele. Sim. Mesmo que isso me doa na pele. O Martim tem de perceber e aprender. E eu também.