sábado, 2 de abril de 2011

a idade [tardia] do armário

'lembro-me de ter 15 anos e não me lembro de coisa boa: além de sofrer por amor todos os dias do ano, por frustação ou excesso, por fracasso ou sucesso, estava 'possuído' pela 'verdade absoluta' e sentia-me incompreendido por toda a gente. a começar pelos meus pais e professores.
eu sabia tudo. percebia o que os outros jamais preceberiam - e tinha receita implacável para a vida. vivia numa certeza tão absurda que quase parecia real. aos 15 anos, tanto quanto me lembro, era verdadeiramente insuportável.
esse tempo, felizmente, passa mais depressa do que julgamos - e pela sua natureza, passa 'à força'. começamos a levar pontapés da vida, sofremos as primeiras desilusões sérias, depois entramos no mercado de trabalho, no espaço dos adultos, e somos confrontados com paredes de sabedoria onde a nossa ignorância se desfaz em pó. em breve seremos pessoas normais, com mais dúvidas do que certezas e mais humildade do que arrogância. há excepções, claro.
noto que há muito boa gente à minha volta que persiste numa adolescência tardia - são aquelas pessoas que falam como se o mundo tivesse nascido com elas e sabem tudo mesmo antes de terem tido tempo de aprender. mas, mais tarde ou mais cedo, a parede também vai confrontá-las com a realidade, e terão oportunidade de ser adultos normais. entretanto prolongam a idade do armário...'
pedro rolo duarte, in 'dar o salto'