sexta-feira, 11 de março de 2011

'Ao contrário de ti, eu não quero ser Mãe' [ou dos mal entendidos]*

"Pois eu não quero ter filhos, não quero ser mãe. Tenho outros projectos de vida, outras ambições, outros sonhos e, neste seguimento, os filhos só viriam atrapalhar os meus planos. Mais a mais, nem todas as pessoas têm perfil para ser mãe [e pai], e há quem tenha outras prioridades na vida para além de seguir modelos parametrizados".

(...)
E toda uma mesa, ao almoço, parou e engoliu em seco. Não que isto seja um discurso que nunca ninguém tenha ouvido falar. Não que esta seja uma postura e uma forma de encarar a vida menos válida do que a contrária. Mas é diferente e por ser diferente causou muito burburinho, muita especulação, e muitos olhares de soslaio para a nossa colega que assumiu desta forma a sua convicção em relação ao papel que, supostamente, qualquer mulher gostava de assumir um dia: ser mãe.

Uns ficaram convencidos que foi influenciada pela leitura do livro "40 razões para não ter filhos", da psicóloga francesa Corinne Maier. Outros acharam que está a viver uma má fase e que deve ter passado por algum desgosto amoroso. Outros acharam que apenas falou desta forma porque queria lançar a discórdia e esta discussão, tendo em conta que falávamos de maternidade e uma colega contava a delícia que estava a viver por ter sido mãe de gémeos. Outros acharam que é, puramente, egocentrismo.
Eu acho que esta é só uma forma de encarar a maternidade. Há quem queira ser mãe e há quem não queira. Não me choca, minimamente, ouvir uma mulher dizer que não quer ser mãe. Só porque eu tenho uma visão diferente da vida, que acredito com todas as minhas forças que esse é o melhor papel da vida de uma mulher, não me acho melhor do que uma mulher que pensa de forma oposta. Ninguém é melhor que ninguém por ser mãe ou pai. Ninguém é menos pessoa por isso. E há muitas mais mulheres que pensam como esta minha colega, apenas não têm a coragem de o dizer alto e bom som. Porque é feio, porque as pessoas vão pensar que elas são umas insensíveis, porque não cabe na cabeça de ninguém e porque no fundo todos construímos um futuro baseado em modelos que nos foram impostos: namorar, casar, ter filhos, and so on.

Nem todas as mulheres têm aquilo que se chama de relógio biológico e, seguramente, não são menos mulheres por não sentirem esse apelo.

* - escrito aqui em 12.10.2010 [usar a expressão "diarreia" - ou outra qualquer do género - para desdenhar/gozar/troçar com a paciência de quem é mãe por opção, é que não me parece uma forma muito perspicaz de abordar o assunto. mas isto, claro, é só a minha opinião. e, como sempre, vale o que vale.]