quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Entretanto

Ainda gostava de saber os efeitos que os elogios em excesso podem fazer a uma criança. A sério. Eu sei que qualquer mãe acha os seus filhos os mais bonitos do mundo, que os elogia até à exaustão e que para as mães mais nenhum se compara. Sei isso, entendo, apesar de não ser essa a minha postura. Não me parece, continuando, muito benéfico e saudável, do ponto de vista da construção da personalidade de uma criança, que a mesma passe a vida [sim, todos os dias, em diferentes circunstâncias], desde que nasceu, a ouvir coisas como: 'és tão lindo filho, és lindo, lindo, lindo e não há nenhum menino tão bonito como tu' [repetido mil seiscentas e noventa vezes], 'és o mais bonito da escola', 'és o mais bonito dos filhos do nosso grupo de amigos', 'és o mais bonito dos escuteiros', 'és o mais bonito dos irmãos', 'és o mais bonito do bairro', etc etc etc.
O miúdo, que ouve isto quase a cada hora, cresceu com o tique de passar a vida a ver-se ao espelho, a ajeitar o cabelo, a sorrir quando vai na rua e vê a imagem reflectida no vidro de um carro... o miúdo passa a vida a dizer 'sim, eu sei que sou muit'a bonito', ou 'sabias que lá na escola eu sou o mais giro?, ou 'sim, eu podia muito bem ser modelo e ganhar a vida com esta cara. nem precisava de estudar, ahahahaha', etc etc etc.
Hoje é um adolescente vaidoso, convencido que a beleza lhe vai abrir portas e que isso é mais importante que ter boas notas, estudar, tirar um curso, ter de fazer alguma coisa pela vida. Eu posso estar enganada e isto até ser tudo muito certo e tal, e a auto-estima, e a auto-confiança, e alimentar o ego de uma criança é bom, e mais não sei quê. Mas ainda gostava que alguém me explicasse se isto é só uma implicação minha, e não há qualquer efeito nefasto na personalidade desta criança, ou se está alguma coisa errada nesta fixação pela 'carinha laroca que o meu filho que-é-tão-lindo-e-sabe-disso tem'.