sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A sério, o que é que se passa com as pessoas?

Tenho este hábito parvo de fazer as compras sempre nos mesmos sítios. Gosto do comércio tradicional, das mercearias que já ninguém usa, dos talhos iguais aos de antigamente, dos mercados/praças e das feiras. Costumo ir comprar carne sempre ao mesmo talho. Os senhores são simpáticos, fazem sempre umas sugestões óptimas, têm uns preços muito bons e, a melhor parte de todas, a carne é sempre de muito boa qualidade. Mas hoje perderam uma cliente: eu. É isso mesmo. Podem ser os mais simpáticos do mundo, serem cordiais e muito correctos com os clientes, fazerem sempre umas graças com o Martim e dizerem que ele é o bebé mais simpático que conhecem (dizem isto a todos os bebés, claro), saberem conjugar o binómio preço/qualidade como poucos e ainda sugerirem umas receitas muito boas, mas tudo isto perde sentido e credibilidade quando, após a minha saída do talho, olho para trás e vejo um dos donos a dar um pontapé a um cão. Pois. Eu também não queria acreditar no que via. Horrível. Fiquei tão parva que nem sabia o que dizer.
Fiquei a olhar para aquele homem que, minutos antes, tinha sido o mais simpático e solícito e cordial do mundo, e o nó que senti na garganta não me deixava falar. Ia continuar o meu caminho, a chamar-lhe nomes, a gritar para mim mesma que a estupidez de algumas pessoas cresce a cada dia que passa, e a assumir uma postura cobarde, como se não tivesse visto nada. Mas voltei atrás. Toda a tremer, cheia de nervos, mas voltei. E perguntei-lhe o que era aquilo, porque é que ele tinha feito aquilo, o que é que se passava de errado com ele. A resposta foi tão vazia quanto o acto: "a senhora não sabe, mas este animal não me sai da porta e anda sempre a incomodar os clientes, a pedir comida e nós não podemos estar sempre a dar-lhe carne, é que não sai daqui e passa a vida a incomodar. só assim, com estes sustos, é que ele se vai embora".

Estas coisas tristes e sem qualificação, tiram-me do sério. Nem sabia o que lhe dizer. Mas disse a primeira coisa que me veio à cabeça. Disse que achava que ele era uma besta, das piores que já tinha visto à frente e que tinha acabado de perder um cliente e, no mínimo, o respeito dos outros todos que estavam a ver aquela atrocidade, [sim, porque não sei até que ponto as pessoas que estavam a assistir ao mesmo que eu, amanhã já esqueceram a besta que ali vive e voltam a fazer as suas compras, ignorando que têm à sua frente um animal da pior espécie] e que, querendo lá saber se tenho razão ou não, ia fazer queixa dele. Não sei bem a quem. Mas vou.