terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Será que me posso queixar a Deus?

Tenho muita roupa que o Martim não vestiu. Roupinhas de recém-nascido que lhe ofereceram, outras tantas que lhe comprámos e mais umas quantas peças que já não são de recém-nascido, mas que lhe deixaram de servir num instante. Algumas estão mesmo novas, por estrear, e outras usou uma ou duas vezes.
Um dia destes, numa das minhas idas ao supermercado aqui do burgo, ouvi uma senhora comentar com a dona do espaço que a igreja aqui da zona estava a pedir mantimentos, comida, roupas de criança e adultos, e tudo o que as pessoas quisessem doar, para uma família numerosa que tinha ficado na miséria [mãe doméstica, pai ficou desempregado e quatro filhos pequenos - sendo um deles, pelo que percebi, recém-nascido]. Pensei que esta seria uma boa oportunidade para oferecer as roupas do Martim a quem precisa, mais coisas minhas que já não uso [mas que vou guardado "porque um dia pode dar jeito"] e outras tantas que entretanto juntava à trouxa.
Toca de ir procurar o número de telefone da igreja, para perguntar qual seria a melhor hora para lá passar e deixar estas coisas todas. Liguei, expliquei que ligava por causa da história que tinha tido conhecimento e adiantei qual era a minha intenção. Pois, caros leitores, fiquei estarrecida com a forma como fui atendida e corrida (literalmente) pela pessoa que me atendeu:
"Ó minha senhora, a senhora deve estar enganada. A Igreja xyz não recebe nenhum tipo de oferendas. Deve ter percebido mal ou explicaram-lhe mal. Como compreende, isto não é uma instituição de solidariedade social, é uma igreja e aqui fazem-se confissões, missas, casamentos e baptizados. Se quiser ser útil a uma dessas instituições terá de procurar uma ou então saber o paradeiro dessa família. Nós não aceitamos nada, muito menos servimos de intermediários."

E pronto. Assim fica uma pessoa de boca aberta ao telefone, sem saber o que dizer mais e, para ser sincera, sem vontade de fazer mais nada. Ou a senhora que contou a história se enganou, ou há gente com a delicadeza de um elefante numa loja de porcelanas.