terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Há coisas que eu não entendo

Mas gostava. Gostava mesmo de entender o que leva algumas pessoas a serem tão tão frias e insensíveis. E quando falamos de profissionais de saúde acho que a questão se agrava. Não me levem a mal, mas eu acredito que nem todos temos estofo para encarar o mundo da medicina como, em princípio, ele deve ser encarado, e acredito que a humanização das relações médico/enfermeiros/administrativos/ etc.. - paciente é de suma importância. Há muito profissional de saúde que devia ser profissional de outra coisa qualquer. É a minha opinião, vale o que vale.
Não me digam, por isso, que é normal uma mulher ouvir da boca de um destes profissionais acima referidos, num dos nossos hospitais, que "uma perda gestacional [vulgo aborto] é uma coisa normalíssima. as pessoas é que fazem disso um drama. acontece a uma em cada cinco mulheres. por isso minha senhora, não esteja para aí a chorar, nem faça disto um drama. isto não é nada de especial. amanhã já esqueceu."
Até entendo a intenção (boa) de querer pôr a mão no ombro de quem passa por isto, numa tentativa de acalmar a dor. Até entendo que se procure ajudar a pessoa a relativizar. Mas há formas e formas de se dizerem as coisas...

E quando uma mulher [e um homem] desejam muito ter um filho, quando ao fim de muitos anos de tentativas conseguem engravidar, quando até às 22 semanas nada fazia antever este cenário de perda, "isto não é nada de especial/amanhã já esqueceu" é tudo o que não querem ouvir. Sobretudo quando as probabilidades de voltarem a engravidar são, praticamente, nulas. Mas quem é que esquece que perdeu um filho?
Enfim... Só quem passou pelo mesmo pode compreender a dor lacinante desta perda. Ou de como a sensibilidade devia ser uma qualidade inata.